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Palácio em Ruínas. Esboço do Seminário de Chorão:

Setembro 15, 2010

Prólogo: É pena que a geração nova vai olvidar por completo as velhas tradições religiosas de Goa que se acham de certo modo ainda vivas nos monumentos religiosos ou ainda nas ruínas deles. Os nosso jovens ignoram totalmente a história religiosa da nossa Arquidiocese. O Seminário de Chorão existiu lá, mas hoje há só ruínas… : uma Capelhinha de S.Jerónimo (conhecida como Kompro), cheia de morcegos… É Monumento Nacional, mas inteiramente abandonado. Procurei estudar o passado e escrever sobre a história gloriosa do Seminário de Chorão. Visitei o sítio, que está completamente abandonado. Tive a felicidade de ter à mão o trabalho feito pelo Cónego Francisco Xavier Gomes Catão, de saudosa memória, que nos legou o resultado dos seus suores. É o material coligido sobre a história da igreja de Goa, em particular sobre os Seminários da nossa Arquidiocese. Com os dados na mão, pude fazer uma ideia mais ou menos exacta dos edificios da Instituição que tanto bem fez à Igreja e ao povo de Goa e da Índia. Agradeço àqueles que me ajudaram a lever avante este trabalho. Introducção: Ilha de Chorão: Os Jesuítas pregavam nas Ilhas e ensinavam a catequese por via de estudantes goeses, por exemplo, sabemos que André Vaz de Carambolim escreveu a primeira gramática de Concani (o P.Lourenço Peres informou os seu confrades em Portugal em 17 de Dezembro de 1563: “O outro (que estuda teologia) he natural desta terra, casta canarim, que já agora começa de exercitar o telento em preguar em huma freguezia, ora noutra, a gente da terra por sua lingoa. Ocupa-se tão bem em ensinar a língoa a alguns irmãos pour huma arte (gramática) que ele fez” (cf.Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente, coligida e anotada pelo Pe.António da Silva Rego, Índia, vol.9, p.23). Foi este jovem o primeiro professor do Concani e um dos primeiros pregadores em vernáculo (em Banastarim, cf.Pedro Correia Afonso, “Os primeiros pregadores em concani”, Heraldo, no.13.00), e a primeira gramática obra dum Goês como o foi a primeira “Doutrina” em Concani publicada em Portugal em 1545 (cf.OrPort vol. 4, 1907).

A Origem do Seminário: O Seminário de Chorão, que hoje está em total ruína, ficava situado sobre uma colina, a uma milha de distância da margem direita do Mandovi, e aproximadamente duas léguas de distancia da Velha Cidade. Era um casarão que o Patriarca de Etiópia tinha construído, como “casas pequenas e térreas” (“casa modesta e térrea”, cf.P.Caetano Francisco de Sousa, Instituições Portuguesas, p.92) para sua residência na ilha florescente de Chorão (lá por 1558-1560, segundo o Abade Dinis L.Cotinaeu de Klogen, cf.Bosquejo Histórico de Goa, p.77). O seu intuito era retirar-se lá para os Exercícios Espirituais algumas vezes ao ano. Quando, pouco depois de 1610, a casa foi convertida em Noviciado da Companhia de Jesus, tinha dimensões gigantescas. Em 1759 foi extincta a Sociedade de Jesus em Goa, por instrução régia de 26 de Março do mesmo ano, e o casarão foi destinado para o Seminário Diocesano. Até 1859 o edifício com as casas anexas estava em bom estado de conservação, mas depois devido a péssimas condições sanitárias da ilha inteira, desmoronou-se. Era uma construção linda sobre o sítio elevado e vistoso. Era um quadrilátero com vastos corredores e 65 celas construídas para os noviços da Companhia de Jesus. Gostaria citar o ilustre viajante Abade Dinis L.Cottineau de Kloguen, que visitou o Seminário em 1827 e viu nele o “cenário de Grécia”: “O Seminário de Chorão, fronteiro a Vanelim, na ilha que tem o mesmo nome, é um edifício vasto e excelente com boa igreja no outeiro, no cume do qual e atraz da casa, há uma pequena capella com o elegante zimbório e pilares gregos sobre que se sustenta; e o edifício todo, visto de distância, presenta uma verdadeira aparência de um cenário de Grécia” (Bosquejo Histórico de Goa, p.125). Merece menção também a referência dum outro ilustre visitante, o Jesuíta Monsenhor Canoz, que tendo-o visitado durante o período da sua decadência, na sua carta ao Padre Becke, escreve estas linhas: “Como mostrássemos os desejos de visitar o Seminário de Chorão, antigo noviciado da Companhia de Jesus, situado sobre uma collina, a duas léguas pròximamente de distância, na margem oposta da velha Goa, Sua Excellencia [o Governador Conde de Torres Novas] teve a bondade de nos fazer conduzir para alli no seu proprio escaler, e de nos fazer acompanhar por uma banda de música, que augmentou o encanto do passeio com as suas harmonias. Da margem do rio, onde desembarcámos, tivemos de percorrer uma milha de distância por um intenso sol até ao Seminário. Alí encontrámos o Padre Lourenço, antigo discípulo do Collégio da Propaganda em Roma, Superior ou antes Administrador daquelle vasto estabelecimento, vago também por causa da insalubridade: de modo que o pobre Superior está allí como uma sinecura. Elle recebeu-nos muito bem, e nos conduziu por aquelles vastos corredores desertos para nos fazer visitar a casa”. No tempo do Padre Caetano Francisco de Souza, só as paredes do casarão, meio arruinadas, estavam em pé. O elegante zimbório e pilares gregos (mencionados pelo Abade Cottineau de Klogen) se achavam também em bom estado de conservação. A igreja do Seminário estava em ruínas. Era um templo dedicado a Nossa Senhora de Assunta, com a sua frente ao poente. Tinha três altares: o de meio, dedicado ao Orago da igreja; o da direita a S.Luís de Gonzaga; e o da esquerda, a Nossa Senhora de Boa Morte. Lá se festejava com toda a pompa o Dia do Orago em 15 de Agosto; no dia 14, solenizava-se a festa da Nossa Senhora de Boa Morte; e no dia 15, a de S.Luís de Gonzaga.